Violência contra as mulheres: o grito por socorro que não pode ser ignorado
Os números são alarmantes: em 2024, mais de 1,2 milhão de mulheres foram vítimas de algum tipo de violência, com 1.450 feminicídios registrados apenas no primeiro semestre do ano.

A cada dia, milhares de mulheres brasileiras vivem sob o medo, a dor física e psicológica, e a ameaça constante de violência dentro de seus próprios lares. Os relatos recentes, como o de F. (nome fictício), que descreve hematomas pelo corpo e o ciclo de agressões e ameaças, são apenas uma amostra de uma realidade brutal que atinge milhões de mulheres no Brasil. Por trás de cada estatística, há histórias de sofrimento, coragem e, muitas vezes, de vidas interrompidas.
O Retrato da Violência
Os números são alarmantes: em 2024, mais de 1,2 milhão de mulheres foram vítimas de algum tipo de violência, com 1.450 feminicídios registrados apenas no primeiro semestre do ano. A cada seis minutos, uma mulher é estuprada no Brasil. A Justiça brasileira recebe, em média, 2,5 mil novos processos de violência contra a mulher por dia, incluindo casos de violência doméstica, estupro e feminicídio. Mais de 21 milhões de brasileiras relataram ter sofrido violência nos últimos 12 meses, sendo a maioria mulheres negras entre 25 e 44 anos.
A violência não se restringe à agressão física. Ela se manifesta de forma psicológica, moral, patrimonial e sexual. Muitas vítimas relatam manipulação, ameaças, difamação, isolamento social e até o uso de tecnologia para perseguição e humilhação. O ciclo da violência, marcado por agressões seguidas de pedidos de desculpa e promessas de mudança, aprisiona milhares de mulheres, dificultando a denúncia e a busca por ajuda.
O desafio da denúncia
Apesar dos avanços na legislação, como a Lei Maria da Penha e a recente ampliação de medidas protetivas, muitas mulheres ainda hesitam em denunciar. O medo, a vergonha, a dependência financeira e a normalização da violência dentro de lares e comunidades são barreiras reais. Em muitos casos, a denúncia só ocorre após anos de sofrimento, quando a vítima já está profundamente abalada física e emocionalmente.
A ineficiência policial e a falta de estrutura para investigar e julgar os casos também contribuem para a impunidade. Muitas vítimas não têm seus casos apurados adequadamente, o que perpetua o ciclo de violência e desestimula novas denúncias.
Avanços e políticas públicas
Nos últimos anos, o Brasil tem avançado em políticas de enfrentamento à violência de gênero. Novas leis ampliaram o monitoramento de agressores, endureceram penas para crimes de violência psicológica e criaram redes integradas de atendimento à mulher em situação de violência. O Plano Nacional de Prevenção e Enfrentamento à Violência Contra a Mulher, em tramitação, propõe ações educativas, capacitação de agentes públicos, reeducação de agressores e produção de dados para subsidiar políticas públicas.
Campanhas como o Agosto Lilás e o movimento Feminicídio Zero buscam sensibilizar a sociedade e divulgar canais de denúncia, como o Ligue 180, disponível 24 horas por dia, inclusive via WhatsApp. A ONU também reforça que o combate à violência contra a mulher é responsabilidade de todos, homens e mulheres, governos e sociedade civil.
O papel da sociedade: quebrar o silêncio e apoiar as vítimas
A luta contra a violência de gênero não é apenas das mulheres. É uma causa de toda a sociedade. É fundamental que familiares, amigos, vizinhos e colegas de trabalho estejam atentos aos sinais de violência e ofereçam apoio, sem julgamentos. O silêncio e a omissão alimentam o ciclo de agressão.
Grupos de apoio, como o "Juntas por Todas", mostram que a solidariedade entre mulheres pode ser um caminho de superação e reconstrução de vidas. O acolhimento, o suporte psicológico, jurídico e social são essenciais para que as vítimas possam romper com o ciclo de violência e recomeçar.
Como você pode ajudar
Não se cale diante de situações de violência. Se você presenciar ou suspeitar de agressão, denuncie. O anonimato é garantido.
Apoie as vítimas. Ofereça escuta, acolhimento e informações sobre os canais de denúncia e os direitos das mulheres.
Divulgue informações. Compartilhe campanhas, dados e histórias de superação. Informação salva vidas.
Eduque para o respeito. Combata atitudes machistas e misóginas no seu círculo social e familiar. A prevenção começa na educação.
Canais de Denúncia e Apoio
Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher (também disponível via WhatsApp: (61) 9610-0180)
Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher
Aplicativo Direitos Humanos Brasil
Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos
"Nenhuma violência contra a mulher deve ser tolerada. O combate ao feminicídio e à violência de gênero é uma luta de todos nós. Só com união, informação e ação poderemos construir uma sociedade mais justa, igualitária e segura para todas as mulheres."
Campanha Feminicídio Zero
A violência contra as mulheres é uma tragédia social que exige resposta imediata e permanente. Quebrar o silêncio, apoiar as vítimas e exigir políticas públicas eficazes é dever de todos. Não podemos mais fechar os olhos. O futuro de milhões de mulheres depende do nosso compromisso coletivo.
*Renato Feitosa é advogado e jornalista, com ampla experiência na área de comunicação e assessoria de imprensa.